M8 — Quando a Morte Socorre a Vida

Nathan Couto
3 min readJun 2, 2021

--

“M8 — Quando a Morte Socorre a Vida” conta a história de um jovem negro periférico que acaba de ingressar a faculdade em um curso medicina. Ele retrata a sociedade contemporânea, e reflete sobre cotas e meritocracia e a partir disso longa mostra os dilemas enfrentados por Maurício(Juan Paiva) e sua mãe Cida(Mariana Nunes). A trama começa quando Maurício começa a ter sonhos com M8, um corpo que é servido como estudos de anatomia. O filme se mostra necessário nos dias de hoje por questões de didatismo, representatividade fora e atrás da tela, e também temáticas importantes que são apresentadas ao longo da trama.

O longa não trata única e exclusivamente sobre racismo, mas sim também sobre relação mãe e filho, identidade e autoconhecimento, visto a frase que é citada no próprio filme pelo personagem de Pietro Mário(1939–2020), “Sapere aude” de Immanuel Kant que significa “ouse saber”, ou melhor, “atreva-se a conhecer”. E não há nada mais árduo que conhecer a si mesmo. A questão religiosa está nas entrelinhas, como a cena em que Maurício se banha no mar após uma abordagem policial violenta. Maurício é médium, um comunicador de mortos, o um dos pontos centrais da trama é o seu reconhecimento com sua ancestralidade e o objetivo de terminar o Rito de Passagem de M8. A ajuda é recíproca, tanto é que o subtítulo do filme é “Quando a Morte Socorre a Vida”.

Racismo, preconceito e discriminação são conceitos que para alguns já estão na ponta da língua. Entretanto, para outros, o óbvio infelizmente ainda é preciso ser dito. O filme não é em nenhum momento panfletário e nem exagera em suas abordagens, pelo contrário, é didático e urgente, pois transita entre as discussões raciais de maneira bem representativa e até mesmo contextualiza o racismo em todas as suas formas e situações de maneira bem simples.

Cabe destacar a fotografia que utiliza de técnicas renascentistas como o chiaroscuro que passa a ideia de antítese, ou seja, embate de duas ideias e assim exalando o contraste. O que tem tua ver a com a trama, já que Mauricio é o único aluno negro da classe, porém, todos os corpos estudados na sala de anatomia são negros. E também a ideia de vazio apresentada em cenas em que ocorrem nas áreas privilegiadas que estão sempre desocupadas e possuem cores frias e já no seu lugar de pertencimento, é tudo muito colorido e bem alegre. Além disso, a trilha que abre e encerra com “Ponta de Lança” de Rincon Sapiência diz muito sobre o que irá acontecer e o que aconteceu.

Em suma, “M8 — Quando a Morte Socorre a Vida” é um ótimo filme que retrata muito bem o que se tem muito discutido atualmente — principalmente depois dos protestos raciais que ocorreram ao redor do mundo em 2020 — que atendem as expectativas, apesar de alguns erros técnicos não muito relevantes. O saldo continua positivo por conta do conteúdo apresentado, da imersão que é gerada e um final poético que sintetiza toda uma conjuntura social que vem acontecendo há décadas. A identificação catártica vem de duas maneiras, dentro e fora das telas, Jefferson De fez um ótimo trabalho e com certeza inspirou a juventude negra a fazer o mesmo e abriu portas para a continuidade do “cinema de gênero” nacional.

--

--

Nathan Couto
Nathan Couto

Written by Nathan Couto

Nascido no 5° dia do Século XXI, Bacharelando em Produção Cultural no IFRJ, músico instrumentista profissional e crítico de cinema.

No responses yet